Eu posso ter filhos?

Eu tinha uns 12 anos quando comecei a tomar anticoncepcional. Logo que menstruei, as minhas cólicas eram insuportáveis e o meu ciclo era todo desregulado. Aí descobri que eu tinha a síndrome dos ovários policísticos, mas, segundo a médica, não era preciso se preocupar, porque os cistos regrediriam e desapareceriam lá pelos meus 20 anos. Ela explicou, porém, que, como meu organismo produzia uma quantidade maior de hormônios masculinos – o que pode causar acne, obesidade, aumento de pelos em algumas partes do corpo, etc. –, era necessário começar o tratamento com a pílula anticoncepcional o quanto antes e acompanhar o desenvolvimento do quadro.

Desde então, eu ia todos os anos ao ginecologista (fui a vários deles, aliás) e o resultado dos exames sempre apontava que os cistos continuavam lá. Minha mãe sempre perguntava se isso afetaria a minha fertilidade e todos diziam que “não necessariamente”, que a infertilidade causada pelos ovários policísticos ocorre em poucos casos e depende do nível da síndrome. Mesmo que eles dissessem que o meu caso não era grave, pra mim e pra minha mãe aquele “não necessariamente” era o mesmo que “geralmente não, mas pode ser que sim”. Não era normal uma menina começar a tomar anticoncepcional aos 12 anos e não parar nunca mais. Ao contrário do que disse aquela primeira ginecologista naquela época, os cistos não desapareceram quando eu fiz 20 anos, nem nos anos seguintes.

Tanto tempo tomando aquela bomba de hormônios me rendeu, obviamente, alguns efeitos colaterais, entre eles uma “ferida” no colo do útero. A chamada “ectopia” é na verdade a saída do epitélio (tecido) que recobre o canal cervical para fora do orifício externo do colo, o que não é exatamente uma doença, mas precisa ser tratada, porque deixa o útero mais “desprotegido”, aumentando o perigo de infecções, proliferação de germes e vírus, além de causar eventuais sangramentos depois de relações sexuais. Todos os ginecologistas com quem me consultei disseram que não era necessário fazer cauterização ou qualquer outro tipo de tratamento, mas, como sempre, igual ao que diziam em relação aos cistos nos ovários, era preciso “acompanhar a evolução do quadro”.

O impasse era: se paro de tomar anticoncepcional, a ectopia regride, mas os cistos aumentam (em tamanho e quantidade); se tomo anticoncepcional, controlo os cistos nos ovários, mas a ectopia aumenta. Era preciso escolher e os médicos sempre optaram por tratar os cistos e deixar a ectopia crescer, já que, segundo eles, ela era menos nociva do que os cistos. Segui com o anticoncepcional até que – não sei exatamente quando, nem como, nem por que –, percebi que a preocupação com a fertilidade passou a ser minha, não só da minha mãe. Acho que no fundo toda mulher, até as mais saudáveis, tem uma pontinha de medo de não poder engravidar, de simplesmente não rolar, sei lá... Mesmo que ter filhos não seja um sonho, todo mundo quer ter pelo menos a possibilidade de, e a verdade é que a gente só sabe de fato se pode ou não quando vê lá o resultado do teste do beta hCG: POSITIVO.


Comigo não era diferente, sobretudo tendo passado mais de 15 anos tomando remédio para não engravidar (mesmo que, no meu caso, para outro fim) sem saber o que ia acontecer quando eu parasse de tomar. O meu ginecologista em Brasília era especialista em fertilidade, a clínica dele era especializada em reprodução humana, e ele sempre me dizia que eu não teria problemas para engravidar quando quisesse. Mas, como ele não podia me dar toda essa certeza, sempre emendava no final do discurso um “se houver alguma dificuldade, você volta aqui e a gente dá um jeito”.

Três meses antes do meu casamento eu fui lá na clínica para fazer exames de rotina e ver se estava tudo bem. Contei que ia casar e o médico perguntou se eu ia querer ter filhos logo. Eu respondi que não tão “logo” assim, mas que talvez depois de uns 6 meses ou 1 ano de casada. Ele, sem fazer rodeios, foi enfático: “Então eu te oriento a parar de tomar o anticoncepcional assim que casar e já comece desde já a tomar o suplemento de ácido fólico”. Fiquei assustada e perguntei: “Mas por que? Você acha que eu posso ter dificuldades pra engravidar?”, e ele: “Não, mas também não é garantido que você engravidará logo que interromper o uso da medicação. Então se você planeja a gestação para daqui a 6 meses, deve estar aberta a isso desde já. Será problema pra você se vier antes?”, e eu (depois de pensar por um minuto e ainda com aquela cara de “sei lá, nunca pensei nisso de verdade”) respondi meio evasiva: “Acho que não...”, aí ele concluiu: “Então para o remédio. Se você engravidar, volta aqui pra me contar. Se em 6 meses nada acontecer, você volta pra gente pensar no que fazer, ok?!”, eu assenti com a cabeça e saí.

Entrei no carro e demorei uns minutos para dar a partida. Comecei a rir de nervoso e liguei pro Vitor em seguida. E o que aconteceu depois disso eu só conto no próximo post. Tchan tchan tchan tchaaaaaann... ;)

Comentários

Anônimo disse…
Ih, viciei! Ansiosa pelo próximo post! 03
E viva a medicina ne? Tão acertiva... #soquenão kkkkkk
Kamila Dantas disse…
Mesmo já sabendo o resultado a curiosidade agora é pra ler como ela será contada! Curiosidade mode on!!!
Ma-y-rê Baldini disse…
Carol, pra além do prazer de te ler, hoje descobri que não preciso ter tanto medo de conseguir engravidar por conta de uma vida com ovários policísticos e com anticoncepcional desde muito novinha pra dar jeito nos hormônios! Que bom sentir a sua história, aproximada da minha, acalmar meu coração! Um beijo!
Caroline Vilhena disse…
Que legal, May! Fiquei muito feliz em ler isso! Beijo grande pra vc ;)