O parto

É... um bebê recém-nascido dá trabalho. O tempo que sobra, quando o Pedro dorme, eu aproveito para colocar a casa em ordem ou para cuidar de mim.

Por isso deixei o blog um pouquinho abandonado, mas hoje resolvi retomar os trabalhos por aqui, para relatar como foi o parto.

Para matar a curiosidade de alguns logo de cara: sim, foi parto normal. E não, eu não morri. Mas, não é à toa que o processo se chama TRABALHO de parto. Claro que eu senti dor, muita, talvez a maior da minha vida, mas aprendi que dor nem sempre tem a ver com sofrimento. Lembro e vou lembrar sempre daquele dia 9 de março com o melhor dos meus sorrisos no rosto e repetiria tudo de novo, igualzinho.

Eu estava com 39 semanas e 5 dias, o Pedro estava encaixadinho e eu já tinha 3,5 cm de dilatação, mas nada de a bolsa estourar. Por causa de uma compressão no meu nervo ciático, que me fazia sentir umas dores muito incômodas que iam da lombar para a perna esquerda e me deixavam com muita dificuldade para caminhar, sentar, subir escadas, etc., decidimos não esperar mais. Como eu queria parto normal, partimos para a indução.

Eu estava super em paz quando fui para o hospital na manhã daquele sábado. Não sentia ansiedade ou medo. Nadica de nada. Na verdade eu não tinha muita noção do que me esperava. Depois me disseram que a ocitocina (substância usada para induzir o parto) aumenta a intensidade e a frequência das contrações, o que certamente aumentaria a minha dor. Mas ainda bem que eu só fiquei sabendo disso depois!

Eu queria ter parto normal simplesmente por achar que ele é o normal mesmo, o natural, para o qual meu corpo estava preparado, e nunca passou pela minha cabeça optar pela cesariana por medo da dor. Claro que em alguns momentos, quando me pegava imaginando como seria, eu tive medo, mas minha mãe teve dois filhos de parto normal, minha cunhada e muitas amigas também tiveram, e todas elas me relataram experiências encorajadoras e inspiradoras, então eu nem pensei duas vezes. Mas, sinceramente, nunca fui dessas radicais e militantes do parto normal, não. Eu li muito a respeito (além de ter um marido médico super partidário do parto normal), sabia dos benefícios dele para mim e para o bebê, e, além disso, eu queria viver essa experiência, conhecer a dor do parto, não queria passar por essa vida sem vivenciar isso. Maaaaaas, se por alguma razão não fosse possível e de última hora fosse preciso partir para a cesárea, por mim tudo bem, eu estava preparada para essa possibilidade também.

Fui internada no Santa Luzia umas 12h e às 13h comecei a receber a ocitocina na veia. Estavam comigo meu marido, meus pais e minha sogra, além da médica. Logo começaram as cólicas, mas nada assustador. Meu pai se retirou do quarto. Às 16h a bolsa rompeu e foi aquele aguaceiro! Me disseram que ia ser uma aguinha como se eu tivesse feito xixi... Ahãaaam!! Eu tomei um susto qdo a bolsa estorou! Era MUITA água! Aí a médica fez um toque e viu que eu já estava com quase 5 cm de dilatação. Disse: "Carol, agora começou o trabalho de parto ativo e as dores vão começar a aumentar, tá?! Se prepara", e me deu mais algumas recomendações. Ela chamou a enfermeira e pediu uma bola daquelas de fisioterapia/pilates para dentro do quarto e disse que eu poderia sentar na bola e "quicar" quando as contrações viessem, porque isso amenizaria a dor e ajudaria o bebê a descer. Entre uma contração e outra, me pediu para caminhar pelo quarto e respirar bem fundo. De tempos em tempos ela colocava o sonar na minha barriga para verificar os batimentos cardíacos do Pedro e também fazia o toque para medir a evolução da minha dilatação.

Quando eu estava com 6 cm de dilatação as dores começaram a ficar muito fortes e ela sugeriu que eu fosse com o Vitor para o banheiro e ficasse debaixo do chuveiro, com a água bem quentinha caindo nas minhas costas. Quando vinha a contração, que a essa altura já estava vindo com um intervalo menor entre uma e outra, eu agachava até o chão e ficava "de cócoras" até ela passar. Minha perna (aquela que estava bichada por causa da compressão do ciático) começou a doer muito e então levamos a bola para dentro do banheiro. Esse foi o momento mais especial do meu trabalho de parto.  Eu sentei na bola, ainda debaixo do chuveiro, Vitor colocou uma musiquinha em volume bem baixo e ficava fazendo massagem nas minhas costas enquanto a água caía. Quando a dor vinha, eu fechava os olhos, segurava forte a mão dele e o ouvia dizer: "Respira fundo, meu amor, ele tá chegando, daqui a pouco já vamos ver o nosso bebê" e coisas assim... foi bem bonito.

As dores começaram a ficar insuportáveis e eu quis voltar pro quarto, onde a dra. Silândia e as nossas mães nos esperavam. A luz estava apagada e ficou só a do banheiro acesa. A dra. Silândia levantou bastante a cama e a deixou em uma altura suficiente para que eu, ao lado, sentada na bola, pudesse deitar minha cabeça no colchão e segurar com força num ferro lateral, embaixo do colchão, quando as contrações viessem. Ela pediu um creme hidratante e ficou agachada atrás de mim massageando as minhas costas. Enquanto isso, o Vitor estava com a mão apoiada na minha nuca como quem diz: "eu estou com você", minha sogra segurava forte uma das minhas mãos, e minha mãe cantava e fazia carinho no meu cabelo. Fora as canções que minha mãe cantava e a minha respiração ofegante, o quarto estava em silêncio. Todos estávamos concentrados, quase em oração, preparando a chegada do nosso pequeno. A gente não via, mas com certeza havia muitos anjos conosco naquele quarto.

Já passava das 19h, eu estava com quase 8 cm de dilatação e não consigo qualificar com palavras a dor que eu estava sentindo. Meus olhos permaneciam fechados e minha respiração ofegante. Eu tentava me concentrar no Pedro, pensar em como seria o rostinho dele, me comunicar com ele de alguma forma para não pensar na dor. Minha sogra contou depois (eu nem vi isso) que ela saiu do quarto para chorar, porque não aguentava me ver daquele jeito. Foi, então, que a dra. Silândia sugeriu que fizéssemos a analgesia. Eu não queria, porque tinha medo de perder a sensibilidade e não participar ativamente do parto do meu filho. Tentei aguentar um pouco mais, mas ela repetiu: "Carol, ainda faltam 2 cm de dilatação, o que ainda pode demorar umas 2h, e a dor vai aumentar. Se continuarmos sem a analgesia, na hora da expulsão você vai estar exausta, e é justamente quando você precisa estar inteira para fazer a força necessária". Aí eu concordei. Ela prometeu que ia pedir pro anestesista aplicar bem pouquinho, só pra aliviar a dor nas contrações, e garantiu que eu ia continuar sentindo tudo (em menos intensidade) para não comprometer o parto.

Tudo ocorreu exatamente como ela disse. Eu subi pro centro obstétrico e aplicaram um "cheiro" de anestesia peridural em mim. Aí a dra. Silândia falou pra eu continuar caminhando pelo corredor e agachando quando viessem as contrações. Assim eu fiz pelas 2h seguintes e, vou dizer um negócio, se aquela dor que eu estava sentindo nas contrações era mais leve por causa da anestesia, não quero nem pensar em como seriam se eu não tivesse topado fazer.

Eram quase 21h quando eu finalmente cheguei aos 10 cm de dilatação. Deitei naquela caminha do centro obstétrico (é uma cama que fica super inclinada de modo que eu fiquei quase sentada), apoiei os pés num encosto e segurei numa barra lateral, que eu puxava na hora de fazer a força. Aí a dra. Silândia saiu pra se escovar e colocar os campos estéreis. Minha mãe e minha sogra estavam no mesmo andar, esperando numa salinha ao lado da nossa, que tinha um vidro onde elas podiam olhar para o corredor. A dra. Silândia foi lá no vidro (isso eu fiquei sabendo depois) e avisou a elas: "Chegou a hora, Pedro vai nascer!"

Quando voltou, ela se posicionou na minha frente e disse: "Carol, o Pedro vai nascer agora! Se concentra e faz toda a força que você puder quando vier a contração, tá?! Tudo precisa ser rápido, porque o Pedro também vai se esforçar para sair e ele não pode cansar, se deprimir... Ok?". Cara, com um psicológico desse, óbvio que eu fiz TODA a força que eu podia e que eu nem sabia que existia em mim.

A expulsão durou 15 minutos (até que foi relativamente rápido, em comparação com outros relatos que eu li e ouvi de mulheres que demoraram beeeeeem mais), mas eu devo dizer que, apesar de toda a dor das contrações, foram esses últimos 15 minutos os mais difíceis pra mim. Todo mundo diz que a expulsão é o de menos, que o pior são as dores das contrações, mas pra mim não foi. No meu caso, a expulsão foi o mais tenso de tudo. O pouquinho de anestesia que haviam me dado já não existia mais, as dores estavam insuportáveis, e a força que eu fiz... meu Deus, que força é aquela?! Eu pensei que tudo dentro de mim ia explodir e o moleque não ia sair. O Vitor estava do meu lado, fazendo carinho na minha cabeça e falando baixinho coisas do tipo: "Muito bem, amor meu! Continua! Isso! Muito bem! Eu já vi a cabecinha dele, ele é cabeludinho..." e eu continuava fazendo força. Uma enfermeira super fofa pegou um som e colocou uma música instrumental bem baixinha. A dra. Silândia olhava pra mim sempre com um sorriso no rosto, dizendo palavras de incentivo (parecia que eu estava prestes a fazer o gol e ela era a técnica! rs): "Isso, Carol! Você está indo muito bem! O Pedro já está aqui, continua! Força, Carol! Força!". 

Nos intervalos entre uma contração e outra eu descansava e respirava fundo, mas elas estavam tão seguidas que mal dava tempo de relaxar e já tinha que fazer força de novo. Depois de quase 15 loooooongos minutos e lá pela quinta ou sexta força, eu já não estava aguentando mais, achava que não ia conseguir, que ele não ia sair, e foi então que a dra. Silândia resolveu fazer uma episio. Eu respeito e confio absolutamente na experiência da minha médica e acataria qualquer decisão que ela tomasse naquele momento, com ou sem o meu consentimento prévio. Por isso eu não me importei com a episio. Até porque, como eu já disse antes, não sou dessas pessoas militantes do parto totalmente natural, sem intervençōes, e minha postura em relação à episio era a mesma que em relação à cesárea. Prefiro evitar, mas se for preciso, beleza!

E assim foi... Eu estava fazendo uma força absurda e ele não saía, aí a dra. me disse: "Muito bem, Carol! Na próxima ele nasce!". Na contração seguinte, eu comecei a fazer força de novo e já estava sentindo o Pedro quase saindo, Vitor no meu lado continuava passando a mão no meu cabelo e falando palavras de incentivo. Aí ela fez o corte e... UUUUUNNNNN-ÉÉÉÉÉNNNN!!!!!!! "Tá aqui o Pedro! Bem-vindo, Pedro!", dizia a dra. Silândia enquanto o colocava em cima de mim, todo bezuntado, com os olhinhos ABERTOS! Ele chorava, eu chorava, Vitor chorava. Eu olhava pro Vitor, olhava pra ele e só conseguia dizer: "Meu amor... Meu amor..." e "Obrigada, Senhor...". Não há palavra no mundo para definir aquele momento, aquele sentimento. Toda aquela dor, toda aquela força, tudo passou naquele segundo! Tudo valeu a pena! 

Ele ficou em cima de mim uns minutos até o cordão umbilical parar de pulsar. Aí a dra. chamou o Vitor pra cortar o cordão. Foi emocionante. Saiu a placenta e eu nem vi. Então o pediatra levou o Pedro para limpar, pesar e tudo mais. Vitor foi com eles. Passaram no corredor em frente ao vidro da salinha onde minha mãe e minha sogra esperavam e apresentaram o neto ainda todo sujo. Mais chororô. Depois me levaram pra outra sala, trouxeram o Pedro já todo limpinho e vestido, e colocaram ele no meu peito pra dar sua primeira mamada. Esse momento foi incrível! Nunca imaginei que ele sugasse com tanta força! Fiquei impressionada!

Em seguida, descemos pro quarto onde meus pais e minha sogra puderam pegar o neto, cheirar, tirar fotos... Era muita felicidade pra um quartinho tão pequeno! Os anjos com certeza ainda estavam lá. Minha mãe me abraçou, deu os parabéns, e choramos juntas por um tempo.

Agora me perguntam se meu parto foi como eu queria. Mas, sinceramente, nunca existiu na minha cabeça um "eu quero assim". Eu só sabia que ia deixar rolar, ia confiar na minha médica e respeitar o desenrolar natural do momento. Eu não criei expectativas quanto ao parto, não defini previamente o que eu queria nem como seria e foi a coisa mais LINDA e EMOCIONANTE que eu já vivi. Apesar da dor e tudo mais, de fato não houve sofrimento, não foi traumático... ao contrário, foi uma experiência incrível que, se Deus quiser, eu ainda vou ter a graça de viver outras vezes!


Comentários

Unknown disse…
Que emocionante amiga!! Chorei aqui!! To louca pra conhecer nosso Pedrinho já! Beijo bem grande pra toda a família linda! Nitcha :)
Luíza Diener disse…
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Luíza Diener disse…
Ai que lindo, carol! A grávida besta aqui ficou toda emocionada.
Muito lindo ver como seu parto fou todo cercado de amor, de segurança e de anjos, por que não?

Parabéns por essa linda família!

Bjo
Maíra Hanashiro disse…
Oi, Carol!


Que relato lindo!!!
Emocionante e tão real!

Parabéns pela força e coragem!

Que Deus continue a abençoar vocês!


Beijos, Maíra
Juliana disse…
Ai, que medooooo!
Parabéns pela sua coragem.
Adria disse…
Cunhadinha!!! Já tinha ouvido você falar algumas vezes como tinha sido o parto do Pedroca. Mas em nenhuma das vezes você contou com tantos detalhes como aqui no blog. E eu com minha fantástica cabeça de Bob visualizei tudo. Senti várias emoções como se estivesse com vocês naquela salinha. Inevitavel não chorar. Foi tudo muito maravilhoso e agora temos o nosso Pedroca em nossos braços. Parabéns pela família linda!!! E obrigada por me dar a graça de batizar o meu pequeno príncipe!! Que Deus continue abençoando e Nossa Senhora protegendo!! Bjs =)